terça-feira, 25 de março de 2008

Fichamento: PAXTON, Robert O. A anatomia do fascismo. São Paulo, Paz e Terra, 2007. Capítulo 1: p. 13-49.

O fascismo, segundo elucida o autor logo ao início de seu texto, trata-se de uma resposta do poder conservador, buscando brechas na mesma legalidade que outras correntes políticas opostas se sustentaram. Isso possibilitou a construção desta “ditadura antiesquerdista cercada de entusiasmo popular”. O termo fascismo fora cunhado primeiramente por Mussolini, e viria a ter como base de sua existência um “sólido núcleo central”, este formado por veteranos de guerra que se sentiam no direito de governar o país que haviam anteriormente salvo. O programa fascista italiano tratava-se da mescla de um patriotismo de veteranos com uma atitude social radical. O movimento também se caracterizava pelo antiintelectualismo, pela rejeição a soluções de compromisso e também pelo desprezo à sociedade estabelecida (traços estes marcantes dos veteranos bélicos, dos sindicatos pró-guerra e dos intelectuais futuristas, grupos estes que constituíram a massa dos primeiros seguidores do movimento político).

Formar uma sociedade livre e coletivista foi o pensamento que se difundiu entre os nacionalistas, armando assim um terreno sólido e fértil para a aceitação de uma "revolução nacional radical". Movimentos que lutavam em nome de um “bem nacional maior” vinham surgindo não só na Itália, mas também na Europa do pós-guerra. Era comum a quase todos estes movimentos o nacionalismo exacerbado, o anticapitalismo, o voluntarismo e a violência ativa contra os inimigos. Caminhava-se à efetuação de uma revolução “sem ideais que a embossassem, contrária às idéias, contrária a tudo o que há de mais nobre, de melhor, de mais decente, contrária à liberdade, à verdade e à justiça” (PAXTON, página 21). Nas palavras do filósofo-historiador Benedetto Croce, surgia assim o mau governo da “onagrocacia”, o governo dos asnos.

Onze anos depois do Partido Fascista de Mussolini ocupar o poder na Itália, um outro partido fascista toma o poder na Alemanha. O nazismo surge de uma degeneração moral aonde técnicos ignorantes e superficiais, apoiados por uma coletividade das massas ansiosas, haviam triunfado sobre os equilibrados e racionais humanistas.

Segundo Paxton, inúmeras interpretações e definições acerca do fascismo foram apresentadas, porém nenhuma alcançou aceitação universal. Não se há encontrado uma explicação satisfatória para este fenômeno que, aparentemente surgindo do nada, tomou múltiplas e variadas formas, onde todas exaltam o ódio e a violência em nome da superioridade nacional. Ademais, “os movimentos fascistas variavam de forma tão evidente de um contexto nacional para o outro que há quem chegue a duvidar de que o termo fascismo de fato signifique algo além de um rótulo pejorativo” (PAXTON, página 22).

É importante estabelecer, portanto, uma nova visão acerca do fascismo, resgatando seus conceitos e buscando-se uma melhor análise do fascínio que tal movimento provoca. Rever sua complexa trajetória histórica, e todo o horror que esta envolve, é a base fundamental do o autor para se chegar a este objetivo.

O que não se pode ocorrer é que a imagem de um líder personalize o fascismo, dando a entender que tal fenômeno possa ser explicado isoladamente pela sua liderança. Não se deve caracterizar o regime como anti-semita, pois nos primeiros tempos Mussolini contou com o apoio de industriais e proprietários de terra judeus, que lhe forneceram ajuda financeira.

Uma outra característica supostamente essencial do fascismo é seu ânimo anticapitalista e antiburguês. Para alguns, o fascismo é uma forma radical de anticapitalismo, para outros, veio em socorro do capitalismo em apuros. Para o autor, o que de fato o fascismo fez é tão informativo quanto o que disse que iria fazer. O que o regime criticava no capitalismo não era sua exploração, mas seu materialismo, sua indiferença para com a nação.

Paxton adota o mesmo conceito de “revolução fascista” do professor Francisco Carlos. Para ambos o regime era revolucionário em um sentido especial, longe da subversão da ordem mundial e muito mais ainda da redistribuição dos poderes, sejam estes sociais, políticos ou econômicos.

A grande ambigüidade do fascismo é a dificuldade em ser situado no plano político de direita-esquerda, pois o mesmo transcede essas divisões arcaicas visando um objetivo único: unir a nação. Outra contradição apontada no texto entre a retórica e a prática fascista diz respeito à modernização, pois é difícil postular que a essência do fascismo se reduza a uma reação antimodernista ou a uma ditadura da modernização. Esta paradoxal relação do fascismo confunde os que buscam uma origem única para tal movimento, pois, ao mesmo tempo em que se buscava evitar os efeitos sociais negativos da modernidade, tal caminho só se mostrava possível através da integração e do controle, ou seja, fruto de uma “modernização alternativa fascista”, onde na verdade havia uma “racionalidade científica que rejeitava os critérios morais” (PAXTON, página 33).

Ao se estudar o fascismo muitas vezes se dá valor exacerbado a datas e também a grandes feitos, esquece-se a cumplicidade das pessoas comuns no estabelecimento e no funcionamento dos regimes fascistas. O autor apresenta uma série de dificuldades, até aqui, na busca por uma essência única, o famoso “mínimo fascista” (PAXTON, página 35), que, supostamente, permitiria a estudiosos do mundo todo a formulação de uma definição clara e geral do fascismo.

O fascismo trata-se mais de que uma simples idéia, é todo um sistema de pensamento subordinado a um projeto de transformação mundial. “O fascismo não se baseia de forma explícita num sistema filosófico complexo, e sim no sentimento popular sobre as raças superiores, a injustiça de suas condições atuais e seu direito a predominar sobre os povos inferiores” (PAXTON, página 38). O movimento não tem como base sólida nenhuma doutrina, não recebe embasamento intelectual ainda mais quando suas verdades são ditas e vistas como algo absoluto.

O autor informa que os líderes fascistas não possuíam um programa para que se sentissem presos a qualquer tipo particular de forma doutrinária, ainda mais porque, segundo a própria visão fascista, o poder vinha em primeiro lugar, e a doutrina, qualquer que fosse, viria depois. Desta forma, os programas eram informais e fluidos, o que caracteriza o “antiintelectualismo” do movimento, já que tanto Hitler quanto Mussolini não se preocupavam com justificações teóricas. Porém, o fascismo só se tornou algo possível de se imaginar graças aos seus intelectuais dos primeiros tempos, que exerceram influências importantíssimas e de diversos tipos. “Com vistas a se tornar um ator político importante, conquistar o poder e exercê-lo, os líderes lançaram-se à construção de alianças e soluções de compromisso político, pondo de lado, assim, partes de seu programa e aceitando a defecção ou a marginalização de alguns de seus militantes de primeira hora” (PAXTON, página 43).

Já que cada movimento nacional fascista trata-se da expressão plena de cada particularidade cultural, o autor propõe a essa variedade o método comparativo para enfim se buscar as razões para os diferentes resultados do que parecia ser um movimento, a priori, uno. Diante destas variedades, torna-se muito difícil também chegar a uma definição de “mínimo fascista”. Paxton rejeita um nominalismo dos diversos movimentos fascistas pois vê a necessidade de um “termo genérico” para o fenômeno geral em si, já que o mesmo trata-se de uma das novidades políticas mais importantes do século XX, uma vez que se trate de um movimento popular contra a esquerda e contra o individualismo liberal.

Examinar o fascismo, desde os seus primórdios até o “cataclismo final”, é o que permitirá aos estudiosos a penetrarem na complexa teia de interações sociais formadas pelo movimento, o que talvez resulte em se chegar a uma definição correta do mesmo. Ou seja, necessita-se de uma análise histórica. Os fascismos conhecidos por todos “chegaram ao poder com o auxílio de ex-liberais amedrontados, tecnocratas oportunistas e ex-conservadores, e governaram conjuntamente com eles, num alinhamento mais ou menos desconfortável” (PAXTON, página 49). Tal complexidade faz com que se exija algo muito mais elaborado do que a clássica dicotomia que é formada entre movimentos e regimes, até porque embora muitas sociedades tenham elaborado movimentos fascistas ao longo do século XX, poucas chegaram a possuir regimes fascistas de fato.

Um comentário:

Priscila Esteves disse...

também tive q entrar nessa, mas ainda não coloquei nada.Nem sei mexer nisso aqui...rsrs
Beijos