sábado, 24 de maio de 2008

Fichamento: VIZENTINI, Paulo F. “O ressurgimento da extrema direita e do neonazismo: a dimensão histórica e conceitual” .

O tema abordado ao longo do texto de Vizentini é o neonazismo. Para isso, o autor acha indispensável uma análise do nascimento, da expansão e da derrota dos regimes europeus em si. Um período de “hibernação” será também essencial para o ressurgimento de tais movimentos, desta vez modificados sob o contexto cultural e social dos anos 80 e 90. É preciso ressaltar, porém, que “o nazismo faz parte da extrema direita, mas nem toda a extrema direita é exatamente nazista ou neonazista” (VIZENTINI, página 1). Atribuir a tais movimentos um caráter periférico na sociedade também é um erro, pois um possível efetivo reduzido não é o bastante para se negar uma tal importância e perigo.

A crise oriunda da Primeira Guerra Mundial cria e gera o espaço necessário para o desenvolvimento de movimentos ditos fascistas. Da mesma forma, o neofascismo surge segundo circunstâncias próprias. Cada movimento ou regime, em sua época, foi diferente um do outro. O autor aponta para a conivência internacional que houve com relação a regimes desse tipo na Europa, e essas ligações e conexões internacionais permitiram com que o fascismo se afirmasse, pois podem muito bem permitir que um neofascismo se perpetue também. Não deve haver motivos para surpresas, pois negociações e acordos possibilitam com que a política seja desta forma.

Importante ressaltar também o que o autor chama de “colaboracionismo ativo”, que seria a existência de vários grupos políticos e sociais que teriam apoiado o nazismo (no caso alemão), quebrando um pouco o paradigma de uma ocupação alemã plena nos países. Certas camadas sociais, principalmente as elites, participam através de uma espécie de comprometimento.

Uma reconstrução política e econômica da Europa pós-guerra possibilitou que fatores e atores que propiciaram a existência do fascismo sobrevivessem, ainda que em estado de “hibernação”. Houve também uma série de redes internacionais de solidariedade que levaram várias personalidades, elementos importantes do regime derrotado, a buscar refúgio tanto nos EUA quanto no Canadá, mas também nas periferias (na América do Sul esse episódio é bem conhecido). O fascismo sobrevive de uma forma diluída, atendendo às necessidades dos novos tempos, porém, não perdendo a sua força jamais, mas sim adequando-se a um novo ambiente do pós-guerra que já era favorável por si só, onde há um ressurgimento da extrema direita e do neonazismo.

O surgimento de alguns capitalismos bem sucedidos no Terceiro Mundo gera certo “perigo econômico” ao Velho Mundo, o que resulta em movimentos xenófobos como meio de reação. A estagnação e regressão demográfica dos países do Hemisfério Norte também contribuiu para um fluxo migratório elevado para estes países, visando a ocupação de certos cargos que careciam de mão-de-obra. À essas “invasões bárbaras” soma-se o surgimento de alguns movimentos de contra-cultura (como os hippies e os skinheads por exemplo), uma alavanca para o recrutamento visando organizações neofascistas.

A queda dos últimos regimes ditos fascistas (Salazarismo, Franquismo e o regime dos coronéis gregos) na década de 70, faz com que a extrema direita de reorganize, buscando principalmente integração, seguindo a conjuntura temporal vigente, essencial para a sobrevivência dessa direita neofascista.

A retomada do liberalismo na economia dos anos 80 faz com que os europeus tenham medo de novas instabilidades. Tensões sociais encontram uma válvula de escape na xenofobia e no racismo, que representam também o motivo de aderência de um apoio social às bases de movimentos e partidos da direita européia. O cenário político europeu dos anos 80 caminha assim para a direita através da eleição generalizada de governos conservadores na Europa. Todo um rearranjo político é montado. “O que interessa e preocupa não é a manipulação política que se faz desses movimentos, mas, sim, o porquê de largas categorias da população aderirem a eles” (VIZENTINI, página 8). O desencanto das pessoas com os partidos, políticos e instituições democráticas do pós-guerra, segundo o autor, é preocupante, e é o que faz com que um discurso neofascista ganhe espaço.

A globalização teria também produzido um enfraquecimento do Estado nacional. Assim, “se começa a recriar entidades supostamente étnicas, gerando com isto um fenômeno conflitivo e racista” (VIZENTINI, página 9), o que dá margem a ideais neofascistas. O autor aponta que tais problemas não são de origem étnica e racial simplesmente, mas tratam-se também de questões socioeconômicas e políticas.

Sob tais aspectos, Vizentini analisa os regimes fascistas em si e, segundo uma conjuntura específica, o ressurgimento de tais idéias, camuflados por um discurso ultra-direitista que atende aos anseios de uma sociedade desiludida com as democracias do pós-guerra e, ao mesmo tempo, assustada com as diretrizes econômicas e sociais que a Europa pode tomar como rumo.

Nenhum comentário: