terça-feira, 10 de junho de 2008

Fichamento: KRAUSE-VILMAR, Dietfrid. “A negação dos assassinatos em massa do nacional-socialismo: desafios para a ciência e para a educação política”

A possibilidade de negação das atrocidades cometidas pelos nazistas é algo que o autor repudia desde o início de seu texto, a ponto de se perguntar como a sociedade se torna suscetível a este ideal tão sem lógica, chegando mesmo a ser irracional. É importante ressaltar é que estas mesmas pessoas que falam coisas que parecem absurdas não estão isentas de criarem correntes de opiniões poderosas (como foi o próprio caso do nacional-socialismo). Tal negação pública dos crimes nazistas é chamada pelos historiadores de revisionismo. Tal corrente visa principalmente relativizar as declarações feitas pelas testemunhas da época, pois há a defesa da idéia de que os sobreviventes dos campos de concentração teriam exagerado em seus relatos. Os pontos que foram negados pelos revisionistas, segundo enumera o autor do texto, são os seguintes: o número de pessoas assassinadas, as técnicas usadas no extermínio, documentos e figuras históricas que foram apresentados, os locais dos campos de morte e a existência das câmaras de gás.

No entanto, “o cerne das afirmações dos revisionistas consiste na negação do assassinato em massa dos judeus” (KRAUSE-VILMAR, página 2). Desta forma, questiona-se também a culpa dos alemães pela guerra e a dimensão dos crimes cometidos por eles. “Essas pessoas relativizam os crimes alemães acentuando os chamados crimes de guerra dos aliados, fazendo cálculos compensatórios macabros” (KRAUSE-VILMAR, página 2). A teoria mais absurda, como elucida o autor do texto, é a de que Hitler não teria conhecimento do que estava ocorrendo aos judeus, já que tais crimes não seriam ordenados pelas lideranças máximas do partido nacional-socialista (tal idéia destituiria o caráter racional e sistemático do genocídio arquitetado pelos nazistas) O holocausto poderia até mesmo ser uma invenção elaborada pela “conspiração judaica internacional” segundo os revisionistas.

O autor nos apresenta a existência de diferentes níveis de negação, que vão desde argumentos que podem ser refutados facilmente, até hipóteses técnicas ou químicas mais complexas, que não podem ser desmentidas logo de início. “Embora tentem se fazer passar por pesquisadores científicos e sérios, o método que eles empregam não correspondem aos princípios científicos” (KRAUSE-VILMAR, página 3), já que os testemunhos das vítimas são muitas vezes tratados de maneira tendenciosa, além da apresentação da Alemanha como sendo vítima da guerra e a descontextualização arbitrária de documentos e de alguns fatos históricos. “Os revisionistas gostam de copiar coisas uns dos outros e também de citar uns aos outros. Entretanto, a quantidade de material que eles apresentam, revela-se, quando examinada mais de perto, muito pobre” (KRAUSE-VILMAR, página 6).

Outro fator que permanece, no mínimo estranho, em meio ao discurso revisionista é que quase todos os trabalhos convergem ao campo de Auschwitz, o que faz com que outros crimes sejam somente tematizados de passagem. E é preciso notar também que é característico dos revisionistas o uso de uma linguagem marcada pelo ódio e pelo desprezo, longe do ideal imparcial e objetivo das pesquisas em si.

O autor contraria a idéia de que as acusações de genocídio sistemático poderiam ser fruto do pós-guerra, até porque documentos internos do regime nazista já negam por si sós tais argumentos. Argumentos revisionistas são perigosos na medida em que são postos em circulação e atingem assim a opinião pública, no entanto, “temos a obrigação de refutar tal tolice, caso a mesma venha a obter alguma repercussão junto ao público; e devemos fazê-lo, sempre com base em argumentos” (KRAUSE-VILMAR, página 8).

Nenhum comentário: