sábado, 30 de abril de 2011

Gol de placa. Autor: Vitor Lopes Moreira.

A sexta-feira amanheceu com todas as características para ser considerada um dia inserido na cotidianidade mais normal possível. Porém não o foi. Na noite anterior havia tido jogo do fluminense. Como bom apreciador da arte futebolística (e feliz rubro-negro que sou), não pude deixar de assistir. Realmente foi um bom jogo, pontuado por momentos de tensão e suspense, impasse e satisfação. Ou seja, elementos possíveis de caracterizá-lo como um thriller hollywoodiano que concorreria ao Oscar de melhor roteiro original. Melhor que esse jogo, só o do Barcelona contra o Real Madrid, que teve até Cristiano Ronaldo tendo ataque de pelanca em campo, promovendo um dos chiliques esportivos mais engraçados dos últimos tempos.

Até aí tudo bem. Dormi e acordei. Tudo normal. Descendo as escadas esbarro como meu pai na sala, de frente para a televisão ligada. Então ele pergunta: “E aí, você viu?”. Lógico que estaria me perguntando a respeito dos gols do jogo. Respondi: “Vi sim. E o Conca fez um golaço de falta, ao estilo Petkovic de ser”. Meu caro pai, senhor aposentado que passeia com o cachorro da família todo dia, me fez aquela cara de incompreensão, e, corrigindo sua pergunta inicial, que tinha sido feita de forma ambígua, tentou mais uma vez: “Estou perguntando se você viu o casamento do príncipe William”. Por essa eu não podia esperar. E ainda me contou que acordara às 4 horas da madrugada para não perder de jeito nenhum a cerimônia. Dede quando meu pai perdia um jogo para assim poder madrugar e assistir a um casamento? Os tempos estão mudando. Mas sinceramente, num presente onde o Lázaro Ramos roubou o posto de galã do José Mayer, e onde o Restatrt é considerado rock n’ roll, eu juro que nem me surpreendo mais com qualquer mudança comportamental ou social.

E o melhor eram os jornais matinais fazendo sua chamada para as notícias. Globo, Record, Band... Todas as emissoras transmitiam logo de manhã notícias e detalhes sobre o casamento. Detalhes estes até supérfluos. Que mulher havia ido com o melhor vestido, como o melhor chapéu, os convidados mais cafonas, a quantidade de pombos presentes na praça... Alguém convidou a Amy Winehouse? Com certeza a festa iria ser melhor, e ainda geraria mais notícias espalhafatosas as quais os repórteres e jornalistas poderiam expor.

O casamento do século XXI! E o século mal começou... Será que nos próximos 89 anos não vai haver nenhum casamento melhor? Nossa, fiquei até triste. Já até imagino o quanto minha futura esposa irá reclamar, pois nosso casamento não conseguirá chegar nem ao nível das rodas da carruagem real inglesa. É como chegar na caixa de bombons, na segunda-feira após a Páscoa, tentando achar o “Serenata de Amor” e... e... e só achar “Chocôco”, “Milkbar” e “Banana Mix”. É saber que nunca se terá o melhor, o bombom perfeito. Você leitor já passou por isso, e se bobear, na Páscoa da semana passada.

A Abadia de Westminter irá entrar nos futuros livros de História, mas não como o lugar onde em 1534 Henrique VIII aprovara o Ato de Supremacia, separando a Igreja da Inglaterra da Igreja Católica, e muito menos por lá estarem sepultados os corpos de Sir Isaac Newton e de Charles Darwin. Talvez seja lembrada por um casamento real, literalmente (não que tenha sido ficcional). É estranho a repercussão de tal notícia, deve ser culpa da globalização (e também do Google e do Facebook, diga-se de passagem).

De qualquer forma, parabéns ao povo inglês e à Família Real. Felicidades ao duque e à duquesa de Cambridge. E torçamos todos juntos para que eu não acorde na segunda-feira com meu pai vindo me informar quantos gols o príncipe William marcou na sua noite de lua-de-mel.

2 comentários:

Vitor Lopes Moreira disse...

O mais engraçado é que se vocês forem na página da Wikipedia irão notar que já atualizaram o que se diz a respeito da Abadia de Westminter.
Incluíram o trecho: "Em 29 de abril de 2011 casou-se na Abadia de Westminster o Príncipe William de Gales com Catherine Middleton."

Vale dar uma conferida.
Abços à todos, espero que tenham gostado da crônica.
Vitor Lopes Moreira

Unknown disse...

Ainda bem que você não falou do Willians... Agora, sobre o casamento não tenho nada pra dizer - além de achar um saco essa cobertura toda - pois me interessa mais a Inglaterra do primeiro ministro do que a dos príncipes; e também porque minha relação com a moda é bem "incipiente" :P